ESPAÇO PAIS…
A NECESSIDADE DE DIZER "NÃO" AOS FILHOS
Num supermercado observo uma mãe e os dois filhos de oito e dez anos.
Sem nenhuma moderação e sem consultar a mãe, os dois filhos colocam no carrinho, segundo o seu capricho, batatas fritas, latas de cola, caramelos... Eis uma mãe que não sabe dizer "não", que deixa fazer, que se deixa levar em vez de conduzir a família, uma mãe "presa" dos filhos. Faz-lhes falta tudo e a mãe inclina-se sob o pretexto da liberdade da criança. Tem medo das frustrações, tem medo de um "não". Os filhos são uns tiranos, meninos-reis e ela a servidora. Mataram a mãe.
Outro dia, assisti diante do escaparate de uma loja de brinquedos a uma cena semelhante. Uma criança fica presa perante uma locomotiva eléctrica e pede para levá-la.
A resposta construtiva consistiria em falar com a criança, fazê-la pensar, falar com ela sobre a sedução que essa locomotiva eléctrica exercia sobre ela.
"Nos meus tempos"
Dizer "nos meus tempos não tínhamos essas coisas" não tem sentido. Isso é identificar o menino com o seu pai-menino, é arrancá-lo do seu tempo.
A mãe, aqui, adoptou a única solução verdadeira: "Tens toda a razão, esta locomotiva é muito bonita e tu quere-la, mas agora não posso comprar-ta. Se ta pagasse hoje não teríamos carne ao jantar..., porque eu tenho este dinheiro e se o gasto nisso, não poderei empregá-lo noutra coisa". O menino responde: "Isso é-me indiferente, prefiro comer só pão". "Sim, mas para mim não é indiferente", responde a mãe. A criança enfrenta alguém que tem um desejo diferente do dele, que o defende e diz "não". Não o faz para aborrecer o menino, mas mostra que exerce a sua responsabilidade de adulto e que a sua oposição não é mais que a realização justa do seu próprio desejo. Existe uma hierarquia dos seus próprios desejos, que o adulto assume. O conflito entre o desejo da criança e o do adulto deve ser assumido e resolvido. E neste caso resolve-se com uma recusa.
A psicóloga Françoise Dolto escreve: "Não é bom que a criança, sob o pretexto de deixá-la desenvolver-se livremente, não encontre nunca resistência; é necessário que choque com outros desejos que não os seus, correspondentes a outras idades diferentes da sua".
Respeitadores ou débeis?
Cada vez há mais famílias em que as crianças decidem segundo o seu capricho: as raparigas mudam de vestido muitas vezes ao dia (com a consequente desordem no quarto); os rapazes não acabam nunca um jogo começado. Uns e outros refastelam-se frente à televisão, seja qual for o programa. E os pais não intervêm. Têm medo das frustrações. De facto, são uns fracos que se refugiam detrás do princípio do respeito à liberdade do menino, são pais presa dos filhos, pais que não se fazem respeitar.
Na realidade, para seu equilíbrio, a criança deve encontrar-se por vezes ante "nãos" categóricos, inclusive não necessariamente justificados, sempre que não sejam estúpidos.
Medo à chantagem
Não é necessário perguntar sempre à criança o que quer comer hoje, se quer ir dar um passeio... Para as grandes decisões, em contrapartida, é interessante formar um conselho de família, onde se coloquem, ou mesmo choquem, os diferentes desejos. Uma vez tomada a decisão, todos devem aderir a ela. Os pais serão os guardiães, os garantes desta decisão, devendo impor e recusar. Mas dir-se-ia que têm medo: medo de um aborrecimento, medo de uma oposição, medo de uma chantagem, medo de dar ordens ou de defender.
Ceder ao menor capricho, deixá-los fazer o que anseiam, é prestar-lhes um muito mau serviço para o resto das suas vidas. Na vida adulta, frequentemente há que esperar, congelar algo, deixar para amanhã o que quereríamos fazer hoje. Saber esperar e renunciar é uma condição de equilíbrio, uma condição de felicidade. A felicidade nunca vai ao encontro do desejo.
Emmanuel Mounier escreve a este respeito: "A espera suscita sempre uma inquietação, porque suspende a vida e ameaça o porvir. A espera arranca-nos do automatismo do instinto para nos lançar a um mundo novo onde a insegurança é o preço da promessa. O instinto resiste-lhe: a criança não sabe esperar, os seus desejos exigem satisfação imediata. Deste ponto de vista, toda a educação é aprendizagem da espera."
PIERRE GAUTHY, Pedagogo e Presidente do Conselho Belga do Ensino Básico, Europe Today - FOCO N.º 66
Sem nenhuma moderação e sem consultar a mãe, os dois filhos colocam no carrinho, segundo o seu capricho, batatas fritas, latas de cola, caramelos... Eis uma mãe que não sabe dizer "não", que deixa fazer, que se deixa levar em vez de conduzir a família, uma mãe "presa" dos filhos. Faz-lhes falta tudo e a mãe inclina-se sob o pretexto da liberdade da criança. Tem medo das frustrações, tem medo de um "não". Os filhos são uns tiranos, meninos-reis e ela a servidora. Mataram a mãe.
Outro dia, assisti diante do escaparate de uma loja de brinquedos a uma cena semelhante. Uma criança fica presa perante uma locomotiva eléctrica e pede para levá-la.
A resposta construtiva consistiria em falar com a criança, fazê-la pensar, falar com ela sobre a sedução que essa locomotiva eléctrica exercia sobre ela.
"Nos meus tempos"
Dizer "nos meus tempos não tínhamos essas coisas" não tem sentido. Isso é identificar o menino com o seu pai-menino, é arrancá-lo do seu tempo.
A mãe, aqui, adoptou a única solução verdadeira: "Tens toda a razão, esta locomotiva é muito bonita e tu quere-la, mas agora não posso comprar-ta. Se ta pagasse hoje não teríamos carne ao jantar..., porque eu tenho este dinheiro e se o gasto nisso, não poderei empregá-lo noutra coisa". O menino responde: "Isso é-me indiferente, prefiro comer só pão". "Sim, mas para mim não é indiferente", responde a mãe. A criança enfrenta alguém que tem um desejo diferente do dele, que o defende e diz "não". Não o faz para aborrecer o menino, mas mostra que exerce a sua responsabilidade de adulto e que a sua oposição não é mais que a realização justa do seu próprio desejo. Existe uma hierarquia dos seus próprios desejos, que o adulto assume. O conflito entre o desejo da criança e o do adulto deve ser assumido e resolvido. E neste caso resolve-se com uma recusa.
A psicóloga Françoise Dolto escreve: "Não é bom que a criança, sob o pretexto de deixá-la desenvolver-se livremente, não encontre nunca resistência; é necessário que choque com outros desejos que não os seus, correspondentes a outras idades diferentes da sua".
Respeitadores ou débeis?
Cada vez há mais famílias em que as crianças decidem segundo o seu capricho: as raparigas mudam de vestido muitas vezes ao dia (com a consequente desordem no quarto); os rapazes não acabam nunca um jogo começado. Uns e outros refastelam-se frente à televisão, seja qual for o programa. E os pais não intervêm. Têm medo das frustrações. De facto, são uns fracos que se refugiam detrás do princípio do respeito à liberdade do menino, são pais presa dos filhos, pais que não se fazem respeitar.
Na realidade, para seu equilíbrio, a criança deve encontrar-se por vezes ante "nãos" categóricos, inclusive não necessariamente justificados, sempre que não sejam estúpidos.
Medo à chantagem
Não é necessário perguntar sempre à criança o que quer comer hoje, se quer ir dar um passeio... Para as grandes decisões, em contrapartida, é interessante formar um conselho de família, onde se coloquem, ou mesmo choquem, os diferentes desejos. Uma vez tomada a decisão, todos devem aderir a ela. Os pais serão os guardiães, os garantes desta decisão, devendo impor e recusar. Mas dir-se-ia que têm medo: medo de um aborrecimento, medo de uma oposição, medo de uma chantagem, medo de dar ordens ou de defender.
Ceder ao menor capricho, deixá-los fazer o que anseiam, é prestar-lhes um muito mau serviço para o resto das suas vidas. Na vida adulta, frequentemente há que esperar, congelar algo, deixar para amanhã o que quereríamos fazer hoje. Saber esperar e renunciar é uma condição de equilíbrio, uma condição de felicidade. A felicidade nunca vai ao encontro do desejo.
Emmanuel Mounier escreve a este respeito: "A espera suscita sempre uma inquietação, porque suspende a vida e ameaça o porvir. A espera arranca-nos do automatismo do instinto para nos lançar a um mundo novo onde a insegurança é o preço da promessa. O instinto resiste-lhe: a criança não sabe esperar, os seus desejos exigem satisfação imediata. Deste ponto de vista, toda a educação é aprendizagem da espera."
PIERRE GAUTHY, Pedagogo e Presidente do Conselho Belga do Ensino Básico, Europe Today - FOCO N.º 66
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